quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Entenda o que é o compulsório bancário

O Banco Central na tentativa de ampliar a liquidez na economia reduziu o depósito compulsório dos bancos. Isso visava injetar dinheiro disponível para que esses pudessem emprestar. Esse medida já havia sido tomada pelo BC, mas agora foi ampliada, sem nenhum efeito prático.

O que acontecia era que os bancos pegavam o dinheiro a mais e aplicavam em títulos públicos (o que os analistas chamaram de "empoçamento") ao invés de ampliar os empréstimos e linhas de crédito às empresas e clientes. É óbvio que num momento de pânico, onde os bancos estão avessos ao risco de inadimplência ou de prejuízos prefiram por dinheiro em algo seguro e com alta remuneração como os títulos do tesouro, ainda mais com as taxas de juros brasileiras estão entre as mais altas do mundo. 

O BC agora liberar os recursos antes destinados ao compulsório bancário em títulos e não mais em dinheiro. Ao meu ver é trocar seis por meia dúzia. Mas antes de aceitar minha opinião, leiam esse artigo abaixo onde se explica o que é o compulsório bancário e porque ele afeta a liquidez na economia.

O depósito compulsório é um dos instrumentos que o Banco Central usa para controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia. O mecanismo influencia o crédito disponível e as taxas de juros cobradas.

Por meio do compulsório, os bancos são obrigados a depositar em uma conta no próprio BC parte dos recursos captados dos seus clientes nos depósitos à vista, a prazo ou poupança.

Quando reduz o compulsório, o BC dá aos bancos mais dinheiro para emprestar aos seus clientes. Isso pode ajudar a reduzir os juros bancários ou, em momentos de mais escassez de dinheiro, impedir que sequem as fontes de crédito para o consumidor e para empresas.

A piora da crise nos EUA e na Europa prejudicou principalmente os bancos menores no Brasil, que têm dificuldade de captar dinheiro no exterior. Por isso, o BC decidiu mexer nas regras do compulsório para liberar até R$ 160 bilhões na economia. Isso equivale a mais da metade de todo o dinheiro que era recolhido por meio do compulsório há dois meses (R$ 270 bilhões).

Veja como funcionam os diferentes tipos de compulsório:

1-) Depósitos à vista

Os bancos são obrigados a recolher 42% dos depósitos à vista (dinheiro da conta corrente) feitos pelos seus clientes e depositar o dinheiro em espécie no BC. Sobre esse valor a recolher, é dado um desconto de R$ 44 milhões. Ou seja, os bancos só depositam aquilo que ultrapassa esse valor. Esse dinheiro fica parado, sem remuneração. Equivale hoje a cerca de 20% de todo o compulsório recolhido pelo BC.

2-) Depósitos a prazo

Os bancos são obrigados a recolher 15% dos depósitos a prazo (CDB, por exemplo) feitos pelos seus clientes. Parte do recolhimento é feito por meio de títulos públicos remunerados (30%). Outra parcela, em espécie, fica sem remuneração (70%). Há um desconto de R$ 2 bilhões no valor a ser recolhido. Representa cerca de 20% de todo o compulsório recolhido.

3-) Caderneta de poupança

O BC exige o recolhimento, em espécie, de 20% do dinheiro que os clientes aplicam na poupança. Nesse caso, o dinheiro é remunerado pelo BC, que paga TR + 3% ao ano ao banco. Representa de 25% a 30% de todo o compulsório recolhido pelo BC.

4-) Exigibilidade adicional

Inclui os três tipos anteriores de compulsório. O banco aplica uma alíquota de 5% sobre os depósitos à vista, 5% sobre os depósitos a prazo e 10% sobre poupança. Sobre o valor apurado, há um desconto de R$ 1 bilhão. O recolhimento é em títulos públicos. Equivale a cerca de 25% de todo o compulsório recolhido pelo BC.

5-) Leasing

O recolhimento sobre depósitos interfinanceiros foi criado no início de 2008, com o objetivo de recolher parte do dinheiro gerado pelo aumento das operações de leasing. A cobrança vem sendo implantada gradualmente, com uma alíquota que vai chegar a 25% em 2009. O recolhimento é feito em títulos públicos. Equivale hoje a cerca de 5% de todo o compulsório recolhido pelo BC.

Um comentário:

  1. Entretanto não assistimos ainda a nenhuma revolta dos banqueiros por conta do elevado compulsório bancário. Os bancos brasileiros apresentam enorme lucratividade; como isso é possível num ambiente regulatório, como o descrito acima? Existe uma válvula de escape chamada CC5, através da qual os banqueiros nada deixam para ser recolhido como compulsório pelo BC. Eles remetem para o exterior, trazem de volta como investimento estrangeiro e giram nas "financeiras" da vida e no endividamento público. Acordem, manés!

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