domingo, 31 de outubro de 2010

São frágeis as bases do crescimento econômico

Emprego cresce com salário baixo, enquanto lucro de empresas cresce e endividamento das famílias, são frágeis as bases do crescimento econômico

O crescimento do emprego vivido na economia brasileira no momento é com salário baixo, provando que o boom econômico e a recuperação da crise de 2009, embora possa até ser forte e vigoroso (porém não recuperou as perdas com a crise), é perigosamente constituído em bases frágeis. Em vários artigos anteriores aqui no Limiar&Transformação já escrevemos isso.

Porém, enquanto o salário segue em baixo, por outro lado, os lucros do grande capital segue em tendência crescente, puxado sim pelo crescimento do nível emprego, mas também provável reforçado pelo baixo nível de massa salarial, aumentando portanto a margem dos lucros (menores salários, menores custos, maiores os lucros, que é receita menos lucro - desde que a receita, através de demanda em alta, se mantenha apesar da queda dos salários).

Essas bases são frágeis ao crescimento econômico. Pois, embora o ciclo de boom atual venha sendo puxado em grande parte pelo crédito ao consumidor e pelo consumo, há sim participação do investimento produtivo, porém, este em trajetória crescente nem serve para repor a perda de trajetória antes da crise, e ainda não puxa o salário para cima. Em breve provavelmente a "fatura" deverá ser cobrada pela realidade, como através de sobre-endividamento das famílias, que já dá fortes sinais. Devido a alto consumo baseado em emprego em alta e crédito fácil, porém com salários baixos.

Vejam as quatro matérias a seguir:

Emprego cresce com salário baixo
Monitor Mercantil online, 27/10/2010

No país, 8,3% das empresas oferecem mais 20% vagas/ano, mas salário é de 2,4 mínimos

O número de empresas com dez ou mais empregados assalariados no país chegou a 371.610 em 2008, segundo o estudo Demografia das Empresas, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Do total de empresas, 8,3% (ou 31.876) eram consideradas de alto crescimento - percentual tido "como elevado para os padrões internacionais" pelo IGBE.

Os técnicos do instituto explicam, no documento de divulgação, que as empresas de alto crescimento, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), são as que, por um período de três anos, têm crescimento médio do pessoal ocupado acima de 20% ao ano e, pelo menos, dez pessoas assalariadas no ano inicial de observação.

As cerca de 30 mil empresas brasileiras de alto crescimento empregavam 4,5 milhões de trabalhadores em 2008, o que correspondia a 16,8% do total de 27 milhões de pessoas assalariadas.

O salário médio mensal pago por essas empresas era de 2,4 salários mínimos. Ainda de acordo com o IBGE, a fatia de 8,3% das empresas consideradas de alto crescimento no total das companhias brasileiras é superior à registrada em países como Áustria e Canadá (ambos com fatia em torno de 3%) ou Estados Unidos e Espanha (ambos com cerca de 6%).

O estudo mostra ainda a importância das empresas de alto crescimento na geração de empregos formais no país. E foram responsáveis por 2,9 milhões (57,4%) dos 4,9 milhões de postos assalariados formais gerados entre 2005 e 2008.

Em 2005, nas 30.954 empresas de alto crescimento havia 1,6 milhão de postos assalariados formais. Em 2008, o número foi a 4,5 milhões, crescimento de 173,7% em três anos. No mesmo período, o pessoal ocupado assalariado em todas as empresas aumentou 22,2%.


Vale obtém ganho recorde no trimestre: US$ 6,04 bi
Monitor Mercantil online, 27/10/2010

O lucro líquido da Vale subiu 260%, para US$ 6,038 bilhões no terceiro trimestre, no padrão contábil norte-americano US GAAP. Na comparação dos dois intervalos, a receita líquida aumentou 110%, para US$ 14,102 bilhões, enquanto a geração de caixa medida pelo lucro antes de despesas financeiras, impostos, depreciação e amortizações (Ebitda) subiu 192,5%, para US$ 8,815 bilhões.

Foi o melhor resultado da história da mineradora, com lucro e Ebitda recordes. Anteriormente, o lucro líquido recorde da Vale era o do segundo trimestre de 2008, no valor de US$ 5,009 bilhões. Já o recorde de Ebitda tinha sido registrado no terceiro trimestre de 2008, com US$ 6,374 bilhões.

No padrão contábil brasileiro (BR GAAP), o lucro líquido da Vale aumentou 253,4%, para R$ 10,554 bilhões. Na comparação com o terceiro trimestre de 2009, ainda nesse padrão, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) teve alta de 164,1% para R$ 15,923 bilhões.


Bradesco registra lucro líquido de R$ 2,527 bilhões no terceiro trimestre
Monitor Mercantil online, 27/10/2010

O aumento da oferta de crédito e o recuo da inadimplência levaram o Bradesco a registrar o maior lucro de um banco privado brasileiro no terceiro trimestre. O banco anunciou na manhã desta quarta-feira um lucro líquido de R$ 2,527 bilhões, crescimento de 39,5% em relação a igual intervalo de 2009. Quando excluídos os itens extraordinários, o lucro líquido recorrente do banco fica em R$ 2,518 bilhões, incremento de 40,3% na comparação com o mesmo período do ano passado.

- O trimestre foi de bons resultados, com a queda da inadimplência e aumento da renda das famílias. O maior consumo demanda maior liberação do crédito - explicou o vice-presidente e diretor de Relações com Investidores do banco, Domingos Abreu.

As projeções do banco para 2010 foram mantidas, incluindo a expectativa de um crescimento da carteira de crédito entre 21% e 25%. Durante os meses de julho e setembro deste ano, a carteira de crédito do banco atingiu R$ 255,618 bilhões, crescimento de 18,6%, quando comparada com os últimos 12 meses.

Setor de máquinas e equipamentos cresce 11,5% entre janeiro e setembro
Agência Brasil, 27/10/2010

A indústria brasileira de máquinas e equipamentos faturou R$ 53,1 bilhões entre janeiro e setembro, 11,5% a mais se comparado ao acumulado no mesmo período de 2009, quando o faturamento do setor atingiu R$ 47,6 bilhões.

No entanto, se o faturamento dos nove primeiros meses deste ano for comparado ao mesmo período de 2008, quando os efeitos da crise econômica mundial ainda não eram sentidos no Brasil, o resultado significa uma retração de 13,9%.

No mês passado o setor faturou R$ 6,2 bilhões, aumento de 1,7% em relação ao registrado em agosto. Na comparação com setembro do ano passado, o crescimento foi de 1,8%. Os números foram divulgados hoje pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor divulgada
Monitor Mercantil online, 27/10/2010

Pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor divulgada nesta quarta-feira pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) aponta que, em outubro, 50% das famílias na cidade de São Paulo têm algum tipo de dívida. Destas, 16% já estavam inadimplentes, afirmando possuir contas em atraso e, desse grupo, 7% relatam não terem condições de honrar os pagamentos. Os resultados de outubro se assemelham aos constatados em setembro, quando as proporções eram de 51%, 15% e 7%, respectivamente.

sábado, 30 de outubro de 2010

Dólar em queda não é guerra cambial, é arrocho fiscal

Queda global do dólar não é guerra cambial mas consequência de arrocho fiscal

Crise cambial global não é consequência de uma "guerra cambial", mas do arrocho fiscal implantado pelos governos que impede as economias de saírem da recessão mundial iniciada em 2008. O ponto crítico não está no câmbio, mas nas medidas restritivas adotadas por países, como Alemanha, para enfrentar o déficit público gerado pelo salvamento de bancos, enquanto Estados Unidos e China se esforçam para estimular suas economias, jogando suas taxas de juros a níveis próximos de zero. Não há saída a não ser, na base da cooperação, aumentar a demanda, diminuindo o desemprego e elevando as chances de importação de cada país. O câmbio é apenas uma conseqüência, já que, com o mercado doméstico em recessão, todos querem exportar mais e importar menos, levando a sucessivas desvalorizações e valorizações das moedas nacionais frente ao dólar.

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Corte de gastos trava saída da crise

Monitor Mercantil online, 21/10/2010

A guerra cambial abala a confiança nas lideranças do G20 e limita a chance de um acordo de coordenação global para enfrentar o derretimento do dólar. Em meio às tensões, as autoridades financeiras do grupo se reúnem a partir desta quinta-feira, em Gyeongju, na Coréia do Sul, com a credibilidade em risco e sem perspectiva de consenso.
O clima de cooperação que marcou o esforço do G20 na superação da crise global, quando o mundo marchava para uma depressão mais grave que a de 1929, desapareceu.
Para o economista José Carlos de Assis, presidente do Instituto Desemprego Zero, o ponto crítico não está no câmbio, mas nas medidas restritivas adotadas por países, como Alemanha, para enfrentar o déficit gerado pelo salvamento de bancos, enquanto Estados Unidos e China se esforçam para estimular suas economias.
"Não há saída a não ser, na base da cooperação, aumentar a demanda, diminuindo o desemprego e elevando as chances de importação de cada país. O câmbio é apenas uma conseqüência, já que, com o mercado doméstico em recessão, todos querem exportar mais e importar menos."
Muitos culpam a política ultra-acomodatícia do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), reflexo da recuperação econômica cambaleante, pela onda de fluxo de recursos que corre aos emergentes, ameaçados pelo surgimento de bolhas.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Privatização não tirou atraso de teles

Devido ao 2o turno das eleições, as privatizações voltaram ao centro do debate econômico, justamente como tentativa de diferenciações entre os dois candidatos a presidente, uma contrária as privatizações e o outro como defender daquelas que supostamente "teriam dado certo" . Contudo, ao contrário do que é dito pelo PSDB e grande mídia, e que o PT tem vergonha em discordar com veemência, as privatizações não tiraram o Brasil do atraso nas telecomunicações.

Apontado pelo PSDB, como exemplo de privatização que deu certo, o serviço de telefonia celular no Brasil teve evolução semelhante à que ocorreu no resto do mundo no mesmo período, comprovando que o crescimento do setor se deveu à adesão da população à nova tecnologia, e não ao modelo escolhido no Governo Fernando Henrique Cardoso, que trouxe por sua vez, a venda escandalosa de patrimônio público e as tarifas entre as mais caras do mundo.


Privatização não tirou atraso de teles
Monitor Mercantil online, 21/10/2010

País ficou em 97º lugar entre 233 países na relação de celular por 100 habitantes

Apontado pelo PSDB como exemplo de privatização que deu certo, o serviço de telefonia celular no Brasil teve evolução semelhante à que ocorreu no resto do mundo, comprovando que o crescimento do setor se deveu à adesão da população à nova tecnologia, e não ao modelo escolhido no Governo Fernando Henrique Cardoso.

Segundo dados da União Internacional de Telecomunicações (UIT), o Brasil figura num distante 97º lugar no ranking de 233 países com mais linhas móveis por 100 habitantes. À frente no ranking da agência de comunicações da ONU, vêm nações como Argentina, Guatemala e Albânia. Em 1999, ainda sem os efeitos da privatização, o Brasil era o 80º.

A evolução do número de celulares no país após a privatização das telecomunicações, em 1998, exibe desenvolvimento inferior ao de países que estavam no mesmo estágio. África do Sul, Argentina, Uruguai e até El Salvador tiveram desempenho melhor. Apenas no México a evolução foi inferior à brasileira.

Em 2009, havia 89,79 linhas de celular por 100 brasileiros. No mundo, a média dos países não-desenvolvidos é de 57,9 por 100 pessoas; nas nações desenvolvidas, é de 115,3.

Se em número de linhas o país não se destaca, o mesmo não se pode dizer em termo de tarifas. Ainda segundo a UIT, o Brasil tem a tarifa de celular mais cara do mundo entre 159 países, considerando a PPC (paridade do poder de compra). Um pacote com 25 chamadas e 30 torpedos custa, em média, US$ 42 por mês no Brasil. No México, são US$ 14,60; e em Hong Kong, apenas US$ 1 mensal.

Um dos motivos alegados pelas empresas de telecomunicações para os altos preços é a cobrança de elevados impostos. Mas outro ranking, da consultoria Dirsi somente com países da América, joga por terra essa tese. O Brasil aparece no topo da lista de tarifas elevadas e, mesmo que fossem excluídos todos os impostos sobre a tarifa brasileira, ela ainda seria mais alta do que a do segundo colocado (Honduras) com taxação.

O custo da cesta de serviços na modalidade pré-pago atinge US$ 45,01 por mês no Brasil. Vêm a seguir, Honduras (US$ 25,69) e Uruguai (US$ 21,70). Nesse estudo, as menores tarifas são cobradas em Costa Rica (US$ 3,50) e Jamaica (US$ 2,21). No regime pós-pago, Honduras e Venezuela quase igualam a tarifa brasileira.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

CSP Conlutas: 'no 2o turno da eleição, nem Dilma, nem Serra, unidade de ação contra os ataques que virão'

CSP Conlutas: 'no 2o turno da eleição: nem Dilma, nem Serra, unidade de ação contra os ataques que virão'

CSP-Conlutas aprova posição sobre segundo turno e chamado à unidade de ação contra os ataques que virão


ANDRÉ FREIRE,
Opinião Socialista online


• No final de semana de 15 a 17 de outubro foi realizada a reunião da Coordenação Nacional da CSP Conlutas (Central Sindical e Popular), em Sarzedo (MG). Participaram representantes de 48 entidades sindicais, 12 oposições, 3 minorias de diretoria, 7 movimentos populares e 3 entidades estudantis. No total, foram credenciados 129 representantes com direito a voto e 58 observadores.

No primeiro dia da reunião foi realizada uma mesa de discussão sobre a situação internacional com a presença do professor da Unicamp, Álvaro Bianchi, e de Dirceu Travesso, dirigente da CSP Conlutas, que esteve no mês passado participando das atividades das greves gerais na França e Espanha.

No mesmo dia, à tarde, foi também realizada uma discussão sobre a situação nacional e as tarefas da central no próximo período. Em ambas as discussões, foram apontadas a necessidade de atividades de solidariedade às lutas dos trabalhadores europeus e a preparação de suas entidades e movimentos filiados, assim como sua base social, para o processo de ataques aos direitos dos trabalhadores e do conjunto dos explorados e oprimidos, seja qual for o novo presidente.

A CSP Conlutas aprovou uma resolução política sobre a conjuntura e as atividades, que tem como principal objetivo um amplo chamado à unidade de ação com todos os setores e entidades que estejam dispostos a reagir aos ataques que virão após as eleições. Especialmente a já anunciada reforma da Previdência, que novamente vai querer aumentar o tempo de trabalho para se aposentar.

O objetivo da central é organizar ainda para novembro deste ano uma reunião que dê os primeiros passos conjuntos entre todos estes setores para a construção de um plano de ação para o ano de 2011. Neste ponto, também foi discutida a necessidade do posicionamento da CSP Conlutas sobre o segundo turno das eleições presidenciais.

É parte importante deste calendário de lutas o ato em defesa do Andes (o sindicato dos docentes do ensino superior) que será realizado já no próximo dia 21 de outubro, no Ministério do Trabalho (em Brasília). Este importante sindicato nacional filiado à CSP Conlutas segue sofrendo ataques contra o seu registro e organização sindical.

Consta também com destaque no calendário de ação da central o dia 20 de novembro - Dia da Consciência Negra; o dia 22 de novembro - cem anos da Revolta da Chibata; e o dia 25 de novembro - Dia de Luta contra a Violência à Mulher. A central também fará uma pequena campanha nestas duas semanas que ainda faltam para o segundo turno contra a campanha reacionária que busca criminalizar ainda mais o aborto e a união civil entre casais do mesmo sexo.

Reorganização
Na sábado, foram realizados dois pontos muito importantes para a central. O primeiro, sobre a organização da CSP Conlutas e, o segundo, sobre o processo de reorganização depois da ruptura do Conclat.

No primeiro ponto, ficou definido que até o final do ano será considerada tarefa prioritária da central a sua organização e fortalecimento, com a realização das plenárias e coordenações nos estados e regiões para a eleição das Secretarias Executivas Estaduais. Outra tarefa importante será a retomada com mais ênfase do processo de legalização da entidade junto ao MTE.

No ponto sobre a reorganização, a Secretaria Executiva Nacional apresentou uma resolução comum que apontava para que as ações da central fossem prioritariamente em três sentidos: o primeiro, com o objetivo de fortalecer e organizar a CSP Conlutas; o segundo, a nossa central deve buscar construir um amplo movimento de unidade de ação com todas as entidades e movimentos que queiram resistir aos ataques que virão; e o terceiro, mas não menos importante, que a Secretaria Executiva Nacional siga realizando esforços com o objetivo de construir a possibilidade de uma reunificação orgânica com os setores que infelizmente romperam o Conclat, mas que também apontam a necessidade de retomarmos a discussão sobre a unificação.

Outro ponto alto da reunião foi à realização das reuniões setoriais, como o de educação básica, funcionalismo público federal, mulheres, negros, entre outras.

O domingo, último dia da reunião, foi dedicado à votação das resoluções. As principais resoluções foram aprovadas por ampla maioria dos votos. Como a resolução sobre o segundo turno, onde a Central chama os trabalhadores a não apoiarem nem Dilma e nem Serra, a resolução sobre conjuntura e atividades, as duas aprovadas apenas com uma abstenção. E, a resolução sobre reorganização, que foi aprovada por unanimidade.

Mais de 500mil dizem sim ao tamanho máximo da propriedade rural

Mais de 500 mil pessoas dizem sim ao tamanho máximo para propriedade rural

Mais de 500 mil pessoas ouvidas em 23 estados e no Distrito Federal se disseram favoráveis à idéia de fixar um limite máximo para o tamanho das propriedades rurais. Elas foram consultadas entre os dias 1 e 12 de setembro, em plebiscito organizado pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, entre outras entidades.

Entre os 519.623 cidadãos consultados, apenas 3,52% se posicionaram contrários ao estabelecimento de limite para a terra rural. O percentual de votos em branco foi de 0,63% e o de nulos, de 0,34%. Quanto à pergunta que vinculou o tamanho da propriedade à produção, apenas 4,27% apenas julgaram irrelevante o limite, 0,89% votou em branco e 0,45%, nulo. A maioria concordou também que o limite da propriedade possibilita aumentar a produção de alimentos saudáveis e melhorar as condições de vida no campo e na cidade.

A pesquisa foi divulgada hoje por representantes do fórum, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), durante entrevista coletiva. A consulta integra a primeira etapa de um movimento que pretende colher até o final do ano 1,2 milhão de assinaturas em todo o país para apresentar ao Congresso Nacional em 2011 um projeto visando a estabelecer o limite de 35 módulos fiscais para as terras devolutas e improdutivas.

Se aprovada, a medida vai atingir entre 42 mil e 50 mil propriedades rurais, numa área total equivalente a 100 milhões de hectares. Se for fixado o limite da propriedade em mil hectares, ele atingiria 68 mil propriedades rurais no país. O conceito de módulo fiscal varia nos estados, de acordo com as condições locais, entre 7 hectares a 100 hectares.

A pesquisa sobre o tamanho das propriedades foi antecedida por debates, pela organização de comitês e divulgação de interesses da propriedade privada. O professor Ariovaldo Umbelino, da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que existem no Brasil 200 milhões de hectares de terras improdutivas e 500 milhões de hectares de terras devolutas (terras públicas sem uso específico). Nos últimos anos, segundo ele, aumentou a concentração de terras e o governo não tem conhecimento preciso sobre as posses e propriedades.

Para ele, isso é preocupante, já que em todo o país existem 851 milhões de hectares de terras. O professor da USP destacou os prejuízos ao meio ambiente provocados pelas atividades das grandes empresas e disse que limitar o tamanho da propriedade é importante porque, enquanto a empresa do agronegócio emprega 1,4 trabalhador por hectare, na agricultura familiar 17 pessoas produzem no mesmo espaço.

O representante do Fórum Nacional pela Reforma Agrária, Gilberto Portes, destacou o alcance do plebiscito, lembrando que, na consulta, foram ouvidas mais de 500 mil pessoas.

O representante do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), padre Gabriele Cipriani, afirmou que a questão da terra deveria ter destaque na agenda dos candidatos à Presidência da República, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), que vão disputar o cargo no dia 31, em segundo turno.

Segundo Cipriani, fazer a reforma agraria "é democratizar o uso da terra como um direito da população para produzir alimentos para o mercado interno e para exportação".

Agência Brasil (19/10/2010)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Intelectuais divulgam manifesto pelo voto nulo

Grande mídia ignora mas intelectuais divulgam manifesto pelo voto nulo para o 2o. turno, criticando falsa polarização.

Manifesto dos professores universitários pelo Voto Nulo 






• Nesta eleição a direita – entendida como a representação da grande burguesia –não está representada apenas por Serra, mas também por Dilma. No Brasil, as grandes empresas estão divididas nas eleições. Um setor apóia Serra, o que é mais do que evidente nas empresas de TV e nos principais jornais. Mas a maioria do grande capital, no entanto, que inclui os banqueiros, as multinacionais, os governos imperialistas, apóia política e financeiramente as duas campanhas.

As duas são financiadas pela grande burguesia. A campanha de Dilma arrecadou bem mais que a de Serra, até agora. O dólar se manteve estável nas eleições, estando abaixo de R$ 1,70. Todos nos lembramos do dólar perto dos R$ 4 nas vésperas das eleições de 2002, quando a burguesia ainda temia o que podia ser o governo Lula. Agora o grande capital confia no PSDB... e no PT.

Votar Dilma ou Serra é manter o plano econômico neoliberal aplicado por FHC e continuado por Lula. É manter bloqueada a reforma agrária, como aconteceu no governo FHC e também no de Lula. É aceitar a ocupação militar do Haiti defendida por Dilma e Serra.
Votar em Serra seria votar junto com FHC, Cesar Maia, Yeda Crusius, velhas figuras da direita desse país. Votar em Dilma seria votar junto com Maluf, Collor, Sarney, Jader Barbalho, outras velhas figuras da mesma direita.

Não existe um “mal menor” nesse segundo turno. Votar em Dilma ou Serra vai fortalecer um deles para atacar com mais força os direitos dos trabalhadores. Um governo do PSDB ou do PT vai atacar duramente os trabalhadores quando a crise econômica internacional chegar novamente ao Brasil. Tanto um como outro já anunciaram sua disposição de aumentar a idade mínima para a aposentadoria. Cada voto dado em Dilma ou Serra é uma força a mais que eles terão para aplicar uma nova reforma da Previdência.

Cada voto dado em Dilma ou em Serra ampliará a força do novo governo eleito para atacar os trabalhadores. Não se pode esquecer a crise econômica internacional que se avizinha. Não é por acaso que tanto Dilma quanto Serra já manifestaram que vão implementar uma nova reforma da Previdência assim que eleitos.

Cada voto nulo nesse segundo turno significará menos força para o governo eleito. Foi impossível para a luta dos trabalhadores nessa conjuntura romper a falsa polarização eleitoral entre as duas candidaturas. Mas é necessário expressar nossa rejeição às duas alternativas patronais em disputa. Não serão eleitos em nosso nome.

Primeiras adesões

Henrique Carneiro FFLCH/USP

Álvaro Bianchi IFCH/Unicamp

Ruy Braga FFLCH/USP

Valério Arcary CEFET/SP

Rodrigo Ricupero FFLCH/USP

Luiz Fernando da Silva UNESP/Bauru

Marcelo dalla Vecchia Universidade Federal de São João del-Rei/MG

Roberto della Santa CeCa/UEL

Gonzalo Rojas UACS/UFCG


Abraão Penha DCET-I/UNEB

Menandro Ramos FACED/UFBA

Cecília de Paula FACED/ UFBA

Carlos Zacarias de Sena Júnior FFCH/UFBA

Joselito Almeida DEDC-II/UNEB 

Em Brasília: ciclo de palestras 'Revoluções do Século XX'



Ciclo de Palestras: Revoluções do Século XX


PSTU organiza em Brasília ciclo de palestra sobre Revoluções do Século XX


O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado do Distrito Federal promoverá mensalmente uma série de palestras-debate sobre a História das Revoluções do Século XX.


Estas discussões têm o objetivo de discutir alguns dos fatos históricos mais determinantes da história mundial recente, e trazer à tona o importante debate sobre o socialismo, tão abandonado nos dias de hoje.

Neste mês de outubro, 29 (sexta-feira), a palestra-debate será sobre a famosa Revolução Russa, a Revolução de Outubro de 1917. A primeira revolução proletária vitoriosa da história, foi o fato que, junto à primeira guerra mundial, inaugurou o século XX. O palestrante será o professor Ricardo Guillen, da direção do PSTU.

Os eventos serão na sede da regional DF do PSTU: SCS Qd 6, Bloco A, Ed. Carioca, Sala 215 Brasília - DF

Informações: email: pstubrasilia@gmail.com/ Tel: (61) 3226 1016/ http://pstubrasilia.blogspot.com/



(atualizado, 27 out., às 23h)

Consenso conservador cria falsa divergência entre Serra e Dilma

Consenso conservador cria falsa divergência entre Serra e Dilma

entrevista de Chico Oliveira a Valéria Nader e Gabriel Brito

Qua, 13 de outubro de 2010

Aqueles que esperavam se deparar com um digno debate político no primeiro turno, que pudesse ajudar na escolha de um candidato, acabaram bastante frustrados. Denuncismo hipócrita, promessas excessivas, citações de feitos passados, desfile de números e siglas invadiram o cotidiano dos eleitores, sem nada lhes dizer dos problemas reais do Brasil e de projeções efetivas para o futuro.

Entre os adversários à frente nas pesquisas, e que agora disputarão o segundo turno, nós cidadãos, vimos, de um lado, um candidato que não se arriscaria jamais a uma crítica cerrada ao presidente Lula, com medo de perder mais popularidade; de outro lado, uma candidata que não poderia levantar os temas cruciais da nação, temerosa de perder o apoio da burguesia.

A ausência de radicalização por parte de Serra e de Dilma perfaz um retrato cabal da despolitização a que assistimos, de forma a só cortejar as visões mais consensuais e conservadoras. O estilo comum aos dois candidatos consiste, ademais, em uma demonstração inequívoca da sua conformação ao modelo de sociedade neoliberal.

Para o sociólogo Francisco de Oliveira, nosso entrevistado especial, não é necessário ir longe e nem divagar pela questão religiosa ou ambiental para buscar as causas do crescimento de Marina no primeiro turno. Foi em meio à convergência entre Serra e Dilma que pôde surfar uma candidata, que, para Oliveira, não tem proposta alguma, prega um ambientalismo vago e genérico, não entra em bola dividida e sequer se pronuncia em assuntos cruciais.

O futuro, pelo menos o mais próximo, não se apresenta muito alvissareiro para o sociólogo. Dilma será a provável vitoriosa, os debates entre ela e o adversário devem prosseguir bastante rasteiros no segundo turno e a maioria parlamentar obtida no Congresso pelo bloco liderado pelo PT deverá reforçar o conservadorismo do partido, assim como a regressiva característica de uma agremiação que passou a se constituir em uma mistura entre o PRI (Partido Revolucionário Institucional, no México) e o peronismo.

Confira abaixo.

Correio da Cidadania: Como o senhor avalia os resultados das eleições presidenciais até o momento, que definiu o 2º turno entre Dilma Rousseff e José Serra? Por que Dilma não ganhou no primeiro turno, conforme muitos esperavam?

Francisco de Oliveira: Acho que está tudo dentro das margens de erro das próprias pesquisas. Não houve grande surpresa. A surpresa, de fato, foi a Marina Silva com quase 20%, que as pesquisas não detectavam e ninguém acreditava. Essa é a grande surpresa. Mas os resultados entre Serra e Dilma não são nada surpreendentes.

Correio da Cidadania: Há diversas teorias sobre o crescimento da candidatura Marina na reta final - um dos motivos apontados, inclusive, para a existência do segundo turno. Alguns crêem na força do eleitorado religioso e anti-aborto, tema usado grosseiramente para denegrir Dilma; outros desmistificam tal questão e dizem que Marina entrou no vácuo de uma classe média desorientada politicamente, mas que de alguma maneira se opõe à atual política. Enfim, como o senhor define essa 'onda verde'?

Francisco de Oliveira: Olha, o fenômeno Marina não é tão enigmático assim. Na verdade, ela cresceu porque a campanha dos outros dois principais candidatos não se radicalizou. Eles são, de fato, muito convergentes e, evidentemente, uma brecha no eleitorado foi bem aproveitada por Marina. Não creio que tenha sido voto religioso, ou em função de a candidata se declarar contra o aborto... Acredito que foi produto da não radicalização das outras duas campanhas.

Correio da Cidadania: A existência do 2º turno representa, a seu ver, algo positivo para o país nestas eleições?

Francisco de Oliveira: Acho que é positivo sempre, não só nessa eleição, como em todas. Não é bom para a democracia termos unanimidades burras, como dizia Nelson Rodrigues. É bom haver mais discussão, espaço, mais candidatos. Acho que lucramos. Esse segundo turno poderia servir pra aprofundar o debate. Não é certo que vá acontecer, mas existe a possibilidade.

Correio da Cidadania: Como o senhor enxergou o debate eleitoral realizado para o primeiro turno, no que se refere à priorização de temas e à profundidade com que foram tratados?

Francisco de Oliveira: Sempre muito pobre. O único que tinha algo a dizer era o Plínio, mas não tinha muito tempo. Foi tudo muito raso, de parte a parte. O Serra não tinha muito a prometer, pois, na verdade, tem muito pouca divergência com a Dilma, e vice-versa. Ambos são tidos como desenvolvimentistas, favoráveis a ritmos acelerados de crescimento. Serra conflitou-se com FHC quando era ministro do Planejamento em questões monetárias, cambiais, mas com a Dilma há muita convergência. E é isso que leva à não radicalização de propostas.

A Dilma deve ter também suas divergências com Lula, a não ser que ela seja um fantoche mesmo, o que ainda não está provado. Que ela é uma invenção do Lula, é, mas pode não ser um fantoche. Porém, o fato é que existe muita convergência com o Serra. Em princípio, estamos em um ciclo virtuoso e não há muito a corrigir nos rumos do país, uma vez que a herança de Lula é bem vista. Aumenta um pouquinho o Bolsa-família e por aí vai, de modo que o debate seria morno mesmo.

E foi essa convergência entre Serra e Dilma que, como mencionei, abriu o espaço para a Marina. Mas, se repararmos direito, ela não tem proposta alguma. Prega um ambientalismo vago, genérico, não entra em bola dividida, como se diz em futebol. Em nenhum assunto crucial ela sequer se pronuncia, de modo que foi uma ascensão muito específica, conjuntural, e não avaliza nenhuma promessa futura.

Correio da Cidadania: Como avalia a atuação da esquerda socialista nesta eleição, representada essencialmente pelo PSOL, PCB, PSTU e PCO?

Francisco de Oliveira: A esquerda teria muitos motivos para criticar o sistema e a forma como vem funcionando no país, mas não tinha tempo e nem recursos, e hoje eleição é isso. Foi muito complicado o desempenho. O Plínio ainda conseguiu ser convidado para os debates principais, os demais nem sequer foram convidados. Mas, de toda forma, a grande imprensa ignorou a todos.

Por conta disso, não dá pra dizer que os resultados foram decepcionantes, porque uma coisa que não é exposta, proposta, não chega ao grande público, não pode mesmo se transformar em voto. A Marina teve condições maiores de exposição devido à entrada do dono da Natura, que lhe deu recursos e, ao que parece, tomou gosto pela política, ao menos de acordo com declarações nos jornais. Assim, ela pôde fazer campanha. E a imprensa também se interessou muito por ela, por ser uma espécie de ser exótico, que estava ali no meio com uma história pessoal muito dignificante, uma pessoa pobre que nasceu em seringais, disputando a presidência, muito parecida com o Lula.

Portanto, todos esses fatores criaram muito interesse sobre ela. Até porque o ambientalismo dela é genérico e não contesta o todo, o sistema. Quanto ao seu partido, o Partido Verde, só tem alguma expressão na Alemanha, em nenhum outro país tem expressão política ou eleitoral. De modo que no Brasil não há nada muito promissor. Creio que sua ascensão foi bastante conjuntural devido às características dessa eleição.

Correio da Cidadania: O senhor discorda, portanto, de várias análises que vêm circulando, e que ressaltam a expressiva votação obtida por Marina como um capital para que a candidata se confirme como força política de peso no país, carregando a bandeira da Terceira Via e do Ambientalismo?

Francisco de Oliveira: Não acho que seja um capital que vá render muitos juros... Como disse, só na Alemanha existe Partido Verde com certo peso; em outros países, os verdes nem existem. E não vejo no Brasil tal perspectiva. Seria muito surpreendente que os brasileiros se transformassem em ambientalistas militantes. Isso é mais coisa de religião que de cultura política. Não acredito que Marina tenha se constituído num capital que vá ter desdobramentos adiante e abrir uma via alternativa.

Correio da Cidadania: Qual a sua opinião quanto aos resultados eleitorais no que se refere ao Parlamento, com o avanço do PT e sua base aliada nas duas casas, ao lado da regressão de partidos como PSDB e DEM?

Francisco de Oliveira: É a velha história. PSDB e DEM estão na verdade como defuntos, foram arrastados para o buraco; o PT e o PMDB nadam, por sua vez, de braçada, com muito dinheiro, como se foi sabendo aos poucos; e o PMDB permanece com sua eterna característica de ser um partido muito regionalizado, sem uma liderança nacional (o Temer não será tal liderança), e muito fraturado em todos os lados. Mas essas características também concedem ao PMDB uma capilaridade importante para eleger muitos deputados. Nada excepcional, já que, se não houver nenhuma trombada histórica, o PMDB sempre terá tais resultados.

Enquanto isso, o PT também nada de braçada, com muito dinheiro, todo mundo querendo agradar ao rei, sem nenhuma dificuldade, além de carregar uma campanha muito vitoriosa, com um resultado positivo em votos proporcionais. Não acredito que essa bancada poderosa constituída por PT e PMDB vá resultar em diferença política. Vão se comportar como já estão: de maneira fisiológica e muito conservadora.

Correio da Cidadania: Caso Dilma vença as eleições, governar com esta maioria não levará a um predomínio ainda maior do Executivo na política nacional, na medida em que poderá crescer a sua ingerência sobre o Legislativo?

Francisco de Oliveira: Essa ingerência já ocorre em elevado grau. Mais do que com Lula, não dá nem pra imaginar. Para o povão, não tem nenhuma importância. O povo vai no velho ditado de que todo político é ladrão, não tem apreço por essa discussão. O Legislativo é uma instituição que existe desde o Império e que nunca se firmou para nada. Sempre fazia a vontade do rei no Império.

Não se criou, portanto, uma cultura política nacional que desse destaque e importância ao Legislativo. Situação que permanece, com os parlamentares como espécies de reis civis. E com a tendência crescente de maior importância da economia sobre a política, leva-se o Executivo a dar de braço e cutelo sobre o Legislativo.

O Legislativo não tem autorização e nem poder pra criar despesas, onde já se viu isso? Trata-se de algo que ficou da ditadura e não foi reformado pela nova Constituição. Não há nenhum ato ou lei que saia do Legislativo que implique em despesas que o Executivo seja obrigado a obedecer.

Portanto, mesmo com muita desinformação, caciquismo, de alguma maneira o povo sabe disso: que, para arranjar um empreguinho, um deputado ou senador podem ser eficientes; mas, para algo mais, sabe também que o Legislativo não funciona.

Correio da Cidadania: De todo modo, o governo Lula freou diversas pautas progressistas e reformistas, alegando não haver uma correlação de forças favorável para levar adiante as mudanças, o que acabou tornando célebre o discurso da governabilidade. Acredita que, com maioria no Congresso, haveria alguma chance de serem levadas adiante questões mais polêmicas e combatidas por uma elite ainda muito conservadora, como o aborto, a reforma agrária e a afirmação de direitos de minorias, entre outras?

Francisco de Oliveira: Não, vai ser pior. Essa maioria vai tornar o PT mais conservador do que já é. É um equívoco pensar que assim o PT se liberta de algumas amarras e pode retomar um papel transformador. É o contrário, essa maioria vai dar liberdade para que seja mais explícito em seu fisiologismo e conservadorismo. Não tenho a menor esperança.

Correio da Cidadania: Ainda na hipótese de vitória de Dilma, fala-se muito a respeito da mexicanização de nossa política, em alusão ao longo período em que o PRI - o Partido Revolucionário Institucional - permaneceu no poder no México. O que pensa disso?

Francisco de Oliveira: Acho que o PT já é uma mistura entre o PRI e o peronismo. O lado PRI é o de apropriar-se e usurpar os cargos do Estado, manipular e cevar-se nos fundos públicos. O lado peronista, decadente na Argentina, é o lado propriamente político, uma vez que o peronismo fincou raízes realmente populares e com isso manobrou o tempo todo. O PT tem a mesma raiz popular, mas esse lado sugere uma peronização do PT, ou seja, a inclinação pela cultura do favor, do clientelismo, da corrupção, uma mistura muito estranha, desagradável e politicamente regressiva.

Correio da Cidadania: Findo o primeiro turno, já começaram as especulações sobre as estratégias dos candidatos para o segundo turno, onde a candidata petista já deu claras demonstrações de recuo em alguns temas polêmicos, como, por exemplo, na questão do aborto. Como acha que vão caminhar os debates eleitorais do segundo turno?

Francisco de Oliveira: Vão continuar mornos. Eles vão tentar apenas encontrar motivos de perturbação para o adversário, mas nada de debater os grandes temas nacionais. Nem a Dilma e nem o Serra, a nenhum deles interessa esse debate. O Serra não pode fazer uma crítica cerrada ao Lula, com medo de perder mais popularidade; a Dilma não pode levantar temas importantes, com medo de perder o apoio do que resta da burguesia nacional e da grande burguesia internacional. Não acredito que saia algo interessante, portanto; creio que procurarão os flancos abertos dos adversários para tirar proveito eleitoral.

Correio da Cidadania: Vários setores de esquerda críticos ao governo Lula, e já há bastante tempo descrentes do chamado programa democrático popular, sentem-se em uma sinuca de bico neste segundo turno. Afinal, se o governo Lula não avançou em questões essenciais, como a reforma agrária, com Serra, nem mesmo o diálogo com os movimentos sociais tem sido possível. O que o senhor diria a estes setores neste momento?

Francisco de Oliveira: Eles têm absoluta razão nesse temor. Eu diria para que não esperem nenhuma facilidade de ambos os lados. Do lado tucano, porque estão ideologicamente comprometidos com tudo que é antipopular. Do lado lulista, não haverá abertura para os movimentos sociais a fim de se buscar uma nova estruturação do poder no Brasil.

A vitória do lulismo não é muito promissora, pois, no meu modo de ver, reforçará o estilo de governo que o Lula implantou nos últimos oito anos, a ser confirmado pela eleição de sua candidata, como se fosse a confirmação de que é disso que o povo gosta. Essa é a tese do André Singer, agora o principal intelectual a defender as posições do petismo e do governo Lula. Tudo seguro, sem conflito. Lembra um menino que dançava frevo em Recife e abria os bracinhos dizendo: "dá pra todo mundo, dá pra todo mundo". A mensagem do lulismo é assim, "tem pouquinho, mas dá pra todo mundo. Não precisa brigar, de conflito, porque dá pra todo mundo!".

Esse é o estilo de um governo muito conservador, mais do que se pensa e mais até do que os próprios tucanos supõem. É um governo muito privatista, mais até do que o do FHC. FHC privatizou as empresas; Lula, sobre essa tendência, empurrou o Brasil para o campo do capitalismo monopolista de Estado, no qual não há avanço e nunca se produziram bons resultados em política interna.

O André Singer andou utilizando muito o exemplo do Roosevelt, dizendo que o Lula é sua versão brasileira, esquecendo-se somente que o êxito da administração Roosevelt acabou com o movimento de trabalhadores dos EUA, levando à fusão das centrais sindicais que eram competidoras, e que viraram uma única confederação. E ironicamente, o maior país capitalista do mundo nunca teve condições de formar um partido de trabalhadores. Lá, os trabalhadores sempre foram a reboque do Partido Democrata. É disso que Singer esquece. Roosevelt foi um grande estadista, é verdade, impulsionador do capitalismo americano, mas acabou com o movimento dos trabalhadores norte-americanos. Se é isso que se deseja para o Brasil, então, tome-se lulismo.

A vitória da Dilma traria mais imobilismo. Ela terá muitos problemas, até porque a economia não vai surfar numa onda contínua de progressão como a existente nos oito anos de Lula, sobretudo no segundo mandato. As contradições crescem na medida em que o capitalismo se desenvolve. A tendência é subjugar e fraturar o movimento dos trabalhadores até ele ficar inerte politicamente, sem nenhuma expressão.

Correio da Cidadania: Nesse sentido do imobilismo a que foram conduzidos os movimentos sociais sob o governo Lula, o senhor comungaria, de alguma forma, com a idéia de que a vitória de uma candidatura escancaradamente conservadora como a de Serra seria mais benéfica para as lutas sociais e políticas a longo prazo, no sentido de chacoalhar movimentos paralisados e cooptados pelos anos Lula?

Francisco de Oliveira: Não sei. É uma pergunta interessante, mas difícil de responder, até porque a história pregressa dos tucanos é negativa a esse respeito. Pode haver diferenças pessoais entre Serra e Dilma, mas nada nos autoriza a pensar que uma vitória tucana abriria o campo das contradições e movimentaria mais o campo da luta política. Isto poderia ocorrer se o PT retomasse seu papel de transformação na história brasileira. Mas esse é um cenário tão ilusório quanto pensar que os tucanos possam ter esse impacto no movimento social.

Correio da Cidadania: Qual a importância e quais as chances de reconstituição de uma frente de esquerda de agora em diante?

Francisco de Oliveira: Ainda são poucas, porque, com o crescimento de algumas bancadas no Congresso, vai se deixar pouco espaço para a esquerda atuar. Nossa responsabilidade é tentar descobrir os novos motivos e questões que o povo possa ter e perceber na política.

Não vai haver descanso, folga alguma. A tendência é de se sufocar qualquer manifestação de insubordinação, de críticas. Mas a história caminha e surpresas são sempre bem vindas, além de muitas contradições que vão aparecer e reforçar o destino quase inarredável do Brasil de sua condição de país sub-imperialista.

Essa história de política progressista para a América Latina é uma farsa, pois dominamos o Paraguai, a Bolívia, não temos nenhuma política externa progressista, isso é uma mentira. E do ponto de vista interno, caminhamos para um capitalismo monopolista de Estado, implacável, de olho apenas nos grandes lucros. E vem aí o Pré-Sal, que pode ser um desastre, porque reforçaria estruturas capitalistas mais monopólicas no país... Não vejo nada de promissor.

Acho que a esquerda continuará com as mesmas divisões, uma frente de esquerda ainda não é visível, pelo menos no futuro imediato. Os partidos são todos pequenos e, primeiramente, têm de fazer um esforço extraordinário para sobreviver e ampliar um pouco sua penetração, porque o fogo de barragem sobre qualquer projeto crítico é enorme. E esse fogo de barragem não é só dos demais partidos, mas também da mídia. Que espaço os jornais deram para a discussão dos pequenos partidos? Já eram logo ridicularizados como nanicos, delirantes...

Os partidos pequenos da esquerda têm de fazer um esforço enorme para sobreviver, explorar todas as debilidades do sistema e fazer uma crítica que possa chegar ao povo.

Correio da Cidadania: Arriscaria fazer uma previsão para o segundo turno e, ademais, a projetar qual candidato faria melhor por nosso país?

Francisco de Oliveira: Acho que tudo indica que a Dilma ganha no segundo turno. Não acredito numa transferência maciça de votos da Marina para o Serra. Seus votos vão se dispersar entre ambos; portanto, o mais provável é que a Dilma se eleja presidente.

Mas não sei que governo ela fará, penso apenas na tentativa de continuar os governos do Lula, que na verdade será o personagem atrás do trono, que irá mantê-la com rédea curta. Até porque ela não tem muita experiência na política nacional, nem dentro do PT, e estará cercada de chacais por todos os lados.

Até mesmo pensando em seu futuro, se quiser retornar à presidência, Lula tem de proteger a Dilma, senão ela será estraçalhada na luta política miúda que agora vai se abrir no Estado. Quanto ao seu desempenho no governo, as linhas gerais indicam que ela só dará continuidade ao que o Lula implementou.

Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista. 09-Out-2010

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Lições da França: juventude em luta com a reforma da previdência

Lições da França

Uma das coisas que mais incomodam os defensores dos avanços sobre os direitos previdenciários no Brasil em relação às manifestações na França é a presença da juventude. O estranhamento com a forte participação dos jovens no protesto só é compreensível para os que consideram que a batalha nas ruas francesas se dá apenas em torno do aumento em dois anos da idade para aposentadoria.

Com o desemprego batendo em dois dígitos, os jovens percebem que a ampliação do tempo em que seus pais serão obrigados a trabalhar significará a impossibilidade de encontrarem vagas suficientes quando se formarem. Além disso, o ataque à Previdência se dá pouco depois de o Governo Sarkozy torrar bilhões de euros no salvamento de bancos da falência.

A lição que vem das ruas da França é que a redução dos direitos previdenciários é apenas parte de um ataque mais geral ao Estado de Bem-estar Social, duramente conquistado pelos europeus, e que, sim, haverá resistência.

Leia a seguir manifesto de apoio ao movimento estudantil francês assinado pela ANEL, entidade estudantil nacional brasileira filiada a CSP Conlutas.

***

Estudantes brasileiros apóiam as mobilizações dos estudantes e trabalhadores na França


No dia 12 de outubro 3,5 milhões de pessoas saíram às ruas em mobilização na França. As diversas manifestações que tomaram todo o país exigiam o fim da reforma da Previdência do governo Sarkozy, que tem imposto duros ataques aos trabalhadores e jovens franceses diante das conseqüências da crise econômica na Europa. O projeto de Reforma de Sarkozy tem como central o atraso do tempo mínimo para as aposentadorias que com as sistemáticas crises, o aumento do desemprego e da informalidade aumenta na prática a idade da aposentadoria de 60 para 67 anos.


Diante desses ataques, a mesma efervescência de luta da juventude francesa que em 2005 derrubou o projeto de lei que flexibilizava as contratações de jovens (Lei do Primeiro Emprego) se expressou na atual luta dos trabalhadores franceses com a adesão de milhares de estudantes. Nessa última quinta-feira as mobilizações estudantis tomaram o território Francês, paralisando cerca de 600 instituições de ensino, entre escolas e universidades, enfrentando inclusive a repressão policial. A luta estudantil tem colocado em cheque não só os projetos de reforma do governo Sarkozy mas também tem apontado a importante perspectiva da defesa dos direitos a partir da luta lado a lado com os trabalhadores.


Nesse dia 19, terça-feira e sexto dia da greve geral, os estudantes deram mais um exemplo de ousadia, resistência e rebeldia. Já passam de 850 escolas paralisadas e as manifestações tem se radicalizado ainda mais. Diante dessa situação, a saída de Sarkozy foi apelar para a repressão policial para tentar calar os estudantes: Lyon e Nanterre, periferia de Paris, foi foco da mais brutal repressão contra os manifestantes.


Frente à crise, os governos de todo o mundo tem imposto aos trabalhadores e a juventude duros ataque aos direitos sociais, salários e empregos, sempre em favor dos lucros das empresas e dos poderosos. Porém, a resistência que temos visto por parte dos trabalhadores europeus, e agora em evidência com a luta dos estudantes franceses, mostra que a mobilização é o único caminho para derrotar esses governos e impor uma saída para a crise sob a ótica da classe trabalhadora e da juventude.


Nesse sentido, a ANEL se solidariza com os milhares de estudantes franceses que tem ido as ruas com ousadia se enfrentar com os ataques de Sarkozy e exigir seus direitos ao lado dos trabalhadores. Convidamos os estudantes brasileiros a apoiarem o conjunto das mobilizações francesas que seguem sacudindo a França repudiando qualquer ação do governo e dos patrões de se utilizar da repressão para conter o movimento.


Os trabalhadores e a juventude não pagarão pela Crise! Viva a luta do povo francês!


ANEL (ASSEMBLEIA NACIONAL DOS ESTUDANTES - LIVRE!)


anelivre@hotmail.com

Concentração da riqueza e a desnacionalização continuam a crescer

Dois traços típicos da configuração do Brasil como periféria do capitalismo mundial ,a partir da sua inserção dependente dentro do sistema, é a concentração de riqueza e desnacionalização da economia. esses dois traços prosseguem apesar das recentes mudanças da nossa estrutura econômica.

Concentração de riqueza cresce fortemente no país

Monitor Mercantil online, 18/10/2010

A concentração da riqueza e a desnacionalização da economia continuam a crescer de forma acelerada no país. De acordo com o diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Fractal, Celso Grisi, empresa especializada em pesquisas financeiras, os bancos estrangeiros estão cada vez mais interessados no mercado financeiro do Brasil.

Segundo Grisi, existem no Brasil 213 bancos sob controle total ou parcial de instituições estrangeiras, de 23 nacionalidades. Ao todo, o país tem quase 20 mil agências, além de outros meios físicos e eletrônicos de distribuição: "Esse cenário tende a se movimentar ainda mais depressa em função da expectativa de autorização, pelo Banco Central, da entrada de cinco bancos estrangeiros. Além disso, alguns banqueiros asiáticos estudam o mercado nacional", escreveu.

Já as fusões e aquisições devem bater novo recorde. Segundo a consultoria KPMG, 180 operações foram feitas no país no terceiro trimestre. O anúncio da compra de 40% da gestora de recursos Pátria Investimentos pelo norte-americano Blackstone Group, no fim de setembro, evidencia esse movimento.

O aumento no número de transações lideradas por empresas estrangeiras comprando companhias brasileiras deve fazer com que o total supere o registrado em 2007: 699 operações.

Para o professor de Economia Internacional Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, os fatos fazem parte do processo de centralização e concentração do capital no qual o país está inserido, sobretudo via commodities: "Os bancos estrangeiros até perderam posição relativa no Brasil após a crise. Foi um movimento natural para se protegerem. Agora, há céu de brigadeiro, tanto no mundo, como aqui, com os maiores juros do mundo."

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

'Carta Aberta a Fernando Henrique Cardoso', por Theotonio dos Santos

Theotonio dos Santos, um dos maiores intelectuais brasileiros vivo, um dos maiores expoentes brasileiros nas Ciências Sociais e co-criador da Teoria Marxista da Dependência, durante anos foi amigo e um dos principais interlocutores intelectuais do ex-presidente da República e "ex-sociólogo" Fernando Henrique Cardoso.

Nem mesmo, as diferenças intelectuais e teóricas foram aos poucos os afastando, ou mesmo as políticas desde o fim da Ditadura Militar, a volta do exílio e a redemocratização foram determinantes ao fim da amizade. Porém, parece que isso mudou com os rumos políticos dos anos 90, a partir da adesão total ao neoliberalismo por FHC, e principalmente quanto este se tornou o principal implementador dessas políticas, os levaram a polos bem opostos. 

Na carta a seguir, Theotonio procura polemizar, rebatendo as posições que FHC exprimiu, em um carta aberta a Lula, em que crítica seu governo, enquanto procura "resgatar" o legado histórico de seu próprio mandato presidencial. Embora, o texto possa soar pró Lula e um tanto lulista, em sua resposta aos anos FHC, apresentando elementos de análise crítica ao legado neoliberal em sua gestão a frente do estado.

CARTA ABERTA A FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Theotonio Dos Santos*
 
Meu caro Fernando,
 
Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960 . A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete comtudo este debate teórico . Esta carta assiada por você como  ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão . Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação . Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo . Já no seu governo vários estudiosos discutimos, já no começo do seu governo, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população . Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população . (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependencia: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000) .
 
Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta .
 
O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartir com você . . . Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação . Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10% . A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10% . Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que  se apresentaram como os autores desta queda . Mas isto é falso: tratava-se de  um movimento planetário . 
 
No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo,  próxima dos 10% mais altos . TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO . E aqui chegamos no outro mito incrível . Segundo você e seus seguidores  (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito)  sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte . Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros  deveriam sair do país antes de sua desvalorização,  O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar . E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula” .   ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese?
 
 Conclusões: O plano real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro . A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo . O real foi uma moeda drasticamente debilitada . Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos,  nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada . De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999 .
 
Segundo mito;  Segundo você,  o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal . Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns  60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese . Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade .
 
E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo . UM GOVERNO QUE CHEGOU A PAGAR 50% AO ANO DE JUROS POR SEUS TÍTULOS,  PARA EM SEGUIDA DEPOSITAR OS INVESTIMENTOS VINDOS DO EXTERIOR EM MOEDA FORTE A JUROS NORMAIS DE 3 A 4%, NÃO PODE FUGIR DO FATO DE QUE CRIOU UMA DÍVIDA COLOSSAL SÓ PARA ATRAIR CAPITAIS DO EXTERIOR PARA COBRIR OS DÉFICITS COMERCIAIS COLOSSAIS  GERADOS POR UMA MOEDA SOBREVALORIZADA QUE IMPEDIA A EXPORTAÇÃO, AGRAVADA AINDA MAIS PELOS JUROS ABSURDOS QUE PAGAVA PARA COBRIR O DÉFICIT QUE GERAVA .   Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre . Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou dráticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo . VERGONHA FERNANDO . MUITA VERGONHA . Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identifica com o seu governo . . . te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana .
 
Terceiro mito -  Segundo você,  o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula . Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas . Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS . Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição ns 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID . Tudo isto sem nenhuma garantia .
 
Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida . O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida . Não tem nada a ver com a ameaça de Lula . A ameaça de Lula existiu exatamente em conseqüência deste fracasso  colossal de sua política macro-econômica . Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado . A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações . A loucura do endividamento interno colossal . A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras . Os juros mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa . Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas . Uma dívida sem dinheiro para pagar . . . Fernando, o Lula não era ameaça de caos . Você era o caos . E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criou para este pais . 
 
Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso faze-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa . Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil” . E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em  seu prestígio profissional . Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente .
 
Lamento muito o destino do Serra . Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política . Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo . E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer . E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo . Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o vedadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar . Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista . E dessa política vocês estão fora . 
 
Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade . Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês  ( e tenho a melhor recordação de Ruth)  mas quero vocês longe do poder no Brasil .   Como a grande maioria do  povo brasileiro . Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que  vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder . 
 
Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço.


theotoniodossantos.blogspot.com
 
(*) Theotonio Dos Santos é Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas  sobre economia global e desenvolvimentos sustentável . Professor visitante nacional sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro .  

EUA: Pagamentos de juros da dívida cresceram em 2010

Os pagamentos de juros da dívida dos Estados Unidos cresceram fortemente no ano fiscal 2010.

Em setembro, último mês deste ano fiscal, o governo estadunidense registrou déficit orçamentário de US$ 34,490 bilhões, marcando uma sequência recorde de 24 meses de déficit.

Historicamente, o Governo dos EUA tem superávit no último mês do ano fiscal.

domingo, 24 de outubro de 2010

Seminário de Economia Política na UFMG homenageará economistas soviéticos

Acontecerá nos dias 11 e 12 de novembro o seminário "A Linha Geral" organizado pelo Grupo de Pesquisa em Economia Política Contemporânea do Cedeplar-UFMG.

Chama a atenção que o seminário se dedicará em uma sessão a  três economistas marxistas soviéticos, Rubin, Bukharin e Preobrazhensky.

Seminário A Linha Geral

O Grupo de Pesquisa em Economia Política Contemporâne do Cedeplar-UFMG promoverá nos próximos dias 11 e 12 de novembro o seminário A Linha Geral.

O evento tem por objetivos de debater diferentes visões e interpretações da crítica  da economia política de Marx e discutir alguns aspectos da transformações contemporâneas do capitalismo. Para tanto, contaremos com a presença de especialistas convidados e a participação de todos os interessados.  
 
Data: 11 e 12 de novembro de 2010

Local: Bloco de Auditórios
           Faculdade de Ciências Econômicas
           Universidade Federal de Minas Gerais

Veja a programação completa

A dica é Sessão 1 - Um capítulo da Renascença Vermelha (Rubin, Bukharin e Preobrazhensky) ,  Coordenadora Ana Maria Hermeto de Oliveira (UFMG-Cedeplar) e  Conferencistas Eduardo da Motta e Albuquerque (UFMG-Cedeplar), Hugo Eduardo da Gama Cerqueira (UFMG-Cedeplar)  e João Machado Borges Neto (PUC-SP).

Os três economistas poucos estudados no Brasil formam a elite do pensamento econômico-político marxista na URSS da década de 1920, ao lado de Lênin e Trotsky, e encabeçaram debates intelectuais e políticos centrais naqueles anos de implantação do primeiro país socialista da História, com forte legado a teoria econômico-política marxista até hoje.

As privatizações não pagaram os juros da dívida

Já que o tema privatizações voltou ao centro do debate nacional, vale apresentar a seguinte análise: Privatizar não é a solução para questão fiscal. As privatizações dos últimos 19 anos não geraram recursos suficientes para pagar os juros da dívida pública. O governo federal gastou cerca de 20x mais com os juros nesse mesmo período do que economizou com a venda de empresas ao setor privado.

A explosão da dívida pública vivida na década de 80 foi retardada no Brasil porque da primeira metade dos anos 90 se renegociou com os credores (com um prolongamento e um forte aumento dos juros - cuja dívida saiu de US$65 para US$650 bilhões) e se instituí forte arrocho fiscal, através, entre outras coisas, sa adoção do superávit primário, resultando em quase uma década de estagnação econômica e comprometimento do bom serviço público.

Privatizações não foram suficientes para pagar os juros da dívida pública


As privatizações feitas desde o início da década de 1990 sob o pretexto de fornecer dinheiro para o Estado e equilibrar as contas públicas reduziram o endividamento do governo, mas em condições insuficientes para pagar os juros da dívida pública. 

Segundo dados do Relatório de Política Fiscal, divulgado mensalmente pelo Banco Central, o governo gastou cerca de 20 vezes mais com os juros nos últimos 19 anos do que economizou com a venda de empresas ao setor privado.
De acordo com os dados mais recentes, o setor público pagou, de janeiro de 1991 a agosto deste ano, R$ 1,810 trilhão em juros da dívida pública. Em contrapartida, os ajustes de privatização somavam R$ 75,476 bilhões em agosto, 4,1% dos gastos com os juros em quase 20 anos.
Os ajustes de privatização são uma conta que registra o que o governo economizou até hoje com o processo de venda de estatais. Além das receitas com a venda das empresas, a conta abrange as dívidas transferidas ao setor privado. Esse número só começou a ser divulgado em 2001, mas inclui as privatizações da década anterior.
Para Eliana Graça, assessora do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), os dados do Banco Central mostram que, do ponto de vista fiscal, as privatizações não representaram a melhor saída para equilibrar as contas públicas.
- Privatizar não é a solução para questão fiscal. A questão da dívida pública é muito mais complicada do que isso.
Na avaliação da economista, a dívida pública só foi contida quando, no fim dos anos 1990, o Brasil recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e promoveu reformas fiscais que instituíram, entre outras coisas, o superávit primário - economia de recursos para pagar os juros da dívida pública.
- Na época, se falava que o dinheiro das privatizações seria usado para investir em saúde e educação, mas na verdade até hoje não se sabe o que foi feito com esses recursos.

Fonte: Agência Brasil - 18/10/2010

sábado, 23 de outubro de 2010

RU demitirá 490 mil para pagar dívida de salvamentos dos bancos

Reino Unido demitirá 490 mil para pagar dívida de salvamentos dos bancos 

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Extermínio em massa

Reino Unido ameaça demitir 490 mil para pagar dívida para salvar bancos

Monitor Mercantil, quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, anunciou que o governo conservador do país pretende demitir até 490 mil servidores nos próximos quatro anos.

Osborne alegou que essa política de extermínio social seria necessária para reduzir o déficit público e retirar a economia da estagnação. O plano, apresentado por ele ao Parlamento, é o maior programa de cortes orçamentários do Reino Unido das últimas décadas.

Ele disse, ainda, que as demissões em massa ajudariam a reduzir, até 2015, a dívida que o país assumiu para salvar grandes bancos, ao ritmo de 43 bilhões de libras (49 bilhões de euros) ao ano.

O governo britânico prevê, despesas de 651 bilhões de libras (US$ 742 bilhões de euros) para 2011; 665 bilhões de libras (758 bilhões de euros) para 2012; 679 bilhões de libras (774 bilhões de euros) para 2013; e, 693 bilhões de libras (790 bilhões de euros) para o período 2014-2015.

"Hoje é o dia em que o Reino Unido sai do abismo, quando enfrentamos as contas de uma década de dívida", alegou o ministro.

Para o economista Adriano Benayon, da Universidade de Brasília (UnB), porém, o governo está comprometendo as receitas futuras: "Com a depressão da economia real e o desemprego em alta, as perspectivas não são nada favoráveis para as empresas cobrirem os juros e reduzirem significativamente suas dívidas."

Citando dados da economia dos EUA, o economista afirma que a situação agora está pior do que antes de 2007, quando começou a fase mais aguda da crise.

"Na Grande Depressão, os créditos totais atingiram, nos EUA, em 1935, o recorde de 260% do PIB. Agora estão em 360% do PIB, que, em grande parte, corresponde a rendas financeiras. As grandes empresas norte-americanas elevaram seus débitos em US$ 482 bilhões desde 2007", contabiliza.

Crise e Dívida na Europa: "Manifesto dos economistas aterrorizados"

 "Manifesto dos economistas aterrorizados", Associação Francesa de Economia Política (AEFP)

Crise e Dívida na Europa: 10 falsas evidências, 22 medidas em debate para sair do impasse


Manifesto da Associação Francesa de Economia Política


Manifesto dos Economistas Aterrorizados, assinado inicialmente por Philippe Askenazy (CNRS, Ecole d'économie de Paris), Thomas Coutrot (Conselho Científico da Attac), André Orléan (CNRS, EHESS, Presidente da AFEP), Henri Sterdyniak (OFCE), publicado aqui (em francês) e aqui (em português). Deste último sítio, retiro a apresentação abaixo:

"Recentemente lançado pela Associação Francesa de Economia Política, [é] um documento que sintetiza de forma clara e fundamentada as verdadeiras razões da crise em que nos encontramos, as falsas verdades alimentadas em redor dela e o profundo desacerto das políticas económicas que estão a ser seguidas, contrapondo-lhes as estratégias necessárias, ausentes do discurso dominante."
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Associação Francesa de Economia Política (AEFP) 
Manifesto dos economistas aterrorizados
Crise e Dívida na Europa:
10 falsas evidências, 22 medidas em debate para sair do impasse
Philippe Askenazy (CNRS, Ecole d'économie de Paris), Thomas Coutrot (Conselho Científico da Attac), André Orléan (CNRS, EHESS, Presidente da AFEP), Henri Sterdyniak (OFCE)
Introdução
A retoma económica mundial, que foi possível graças a uma injecção colossal de fundos públicos no circuito económico (desde os Estados Unidos à China) é frágil, mas real. Apenas um continente continua em retracção, a Europa. Reencontrar o caminho do crescimento económico deixou de ser a sua prioridade política. A Europa decidiu enveredar por outra via, a da luta contra os défices públicos.
"Na União Europeia, estes défices são de facto elevados – 7% em média em 2010 – mas muito inferiores aos 11% dos Estados Unidos. Enquanto alguns estados norte-americanos com um peso económico mais relevante do que a Grécia (como a Califórnia, por exemplo), se encontram numa situação de quase falência, os mercados financeiros decidiram especular com as dívidas soberanas de países europeus, particularmente do Sul. A Europa, de facto, encontra-se aprisionada na sua própria armadilha institucional: os Estados são obrigados a endividar-se nas instituições financeiras privadas que obtêm injecções de liquidez, a baixo custo, do Banco Central Europeu (BCE). Por conseguinte, os mercados têm em seu poder a chave do financiamento dos Estados. Neste contexto, a ausência de solidariedade europeia incentiva a especulação, ao mesmo tempo que as agências de notação apostam na acentuação da desconfiança.
Foi necessário que a agência Moody baixasse a notação da Grécia, a 15 de Junho, para que os dirigentes europeus redescobrissem o termo "irracionalidade", a que tanto recorreram no início da crise do subprime. Da mesma forma que agora se descobre que a Espanha está muito mais ameaçada pela fragilidade do seu modelo de crescimento e do seu sistema bancário do que pela sua dívida pública."
Para "tranquilizar os mercados" foi improvisado um Fundo de Estabilização do euro e lançados, por toda a Europa, planos drásticos – e em regra cegos – de redução das despesas públicas. As primeiras vítimas são os funcionários públicos, como sucede em França, onde a subida dos descontos para as suas pensões corresponderá a uma redução escondida dos seus salários, encontrando-se o seu número a diminuir um pouco por toda a parte, pondo em causa os serviços públicos. Da Holanda a Portugal, passando pela França com a actual reforma das pensões, as prestações sociais estão em vias de ser severamente amputadas. Nos próximos anos, o desemprego e a precariedade do emprego vão seguramente aumentar. Estas medidas são irresponsáveis de um ponto de vista político e social, mas também num plano estritamente económico.
Esta política, que apenas muito provisoriamente acalmou a especulação, teve já consequências extremamente negativas em muitos países europeus, afectando de modo particular a juventude, o mundo do trabalho e as pessoas em situação de maior fragilidade. A longo prazo, esta política reactivará as tensões na Europa e ameaçará por isso a própria construção europeia, que é muito mais do que um projecto económico. Supõe-se que a economia esteja ao serviço da construção de um continente democrático, pacífico e unido. Mas em vez disso, uma espécie de ditadura dos mercados é hoje imposta por toda a parte, particularmente em Portugal, Espanha e Grécia, três países que eram ditaduras no início da década de setenta, ou seja, há apenas quarenta anos.
Quer se interprete como um desejo de "tranquilizar os mercados", por parte de governantes assustados, quer se interprete como um pretexto para impor opções ditadas pela ideologia, a submissão a esta ditadura não é aceitável, uma vez que já demonstrou a sua ineficácia económica e o seu potencial destrutivo no plano político e social. Um verdadeiro debate democrático sobre as escolhas de política económica deve pois ser aberto, em França e na Europa. A maior parte dos economistas que intervém no debate público, fazem-no para justificar ou racionalizar a submissão das políticas às exigências dos mercados financeiros. É certo que, um pouco por toda a parte, os poderes públicos tiveram que improvisar planos keynesianos de relançamento da economia e, por vezes, chegaram inclusive a nacionalizar temporariamente os bancos. Mas eles querem fechar, o mais rapidamente possível, este parêntese. A lógica neoliberal é sempre a única que se reconhece como legítima, apesar dos seus evidentes fracassos. Fundada na hipótese da eficiência dos mercados financeiros, preconiza a redução da despesa pública, a privatização dos serviços públicos, a flexibilização do mercado de trabalho, a liberalização do comércio, dos serviços financeiros e dos mercados de capital, por forma a aumentar a concorrência em todos os domínios e em toda a parte…
Enquanto economistas, aterroriza-nos constatar que estas políticas continuam a estar na ordem do dia e que os seus fundamentos teóricos não sejam postos em causa. Mas os factos trataram de questionar os argumentos utilizados desde há trinta anos para orientar as opções das políticas económicas europeias. A crise pôs a nu o carácter dogmático e infundado da maioria das supostas evidências, repetidas até à saciedade por aqueles que decidem e pelos seus conselheiros. Quer se trate da eficiência e da racionalidade dos mercados financeiros, da necessidade de cortar nas despesas para reduzir a dívida pública, quer se trate de reforçar o "pacto de estabilidade", é imperioso questionar estas falsas evidências e mostrar a pluralidade de opções possíveis em matéria de política económica. Outras escolhas são possíveis e desejáveis, com a condição de libertar, desde já, o garrote imposto pela indústria financeira às políticas públicas.
Procedemos de seguida a uma apresentação crítica de dez postulados que continuam a inspirar, dia após dia, as decisões dos poderes públicos em toda a Europa, apesar dos lancinantes desmentidos que a crise financeira e as suas consequências nos revelam. Trata-se de falsas evidências, que inspiram medidas injustas e ineficazes, perante as quais expomos vinte e duas contrapropostas para debate. Cada uma delas não reúne necessariamente a concordância unânime dos signatários deste manifesto, mas deverão ser levadas a sério, caso se pretenda resgatar a Europa do impasse em que neste momento se encontra.

[ e assim segue]
Falsa evidência n.º 1: 
OS MERCADOS FINANCEIROS SÃO EFICIENTES
Falsa evidência n.º 2: 
OS MERCADOS FINANCEIROS FAVORECEM O CRESCIMENTO ECONÓMICO
Falsa evidência n.º 3: 
OS MERCADOS SÃO BONS JUIZES DO GRAU DE SOLVÊNCIA DOS ESTADOS
Falsa evidência n.º 4: 
A SUBIDA ESPECTACULAR DAS DÍVIDAS PÚBLICAS É O RESULTADO DE UM EXCESSO DE DESPESAS 
Falsa evidência n.º 5: 
É PRECISO REDUZIR AS DESPESAS PARA DIMINUIR A DÍVIDA PÚBLICA
Falsa evidência n.º 6: 
A DÍVIDA PÚBLICA TRANSFERE O CUSTO DOS NOSSOS EXCESSOS PARA OS NOSSOS NETOS
Falsa evidência n.º 7: 
É PRECISO ASSEGURAR A ESTABILIDADE DOS MERCADOS FINANCEIROS PARA PODER FINANCIAR A DÍVIDA PÚBLICA
Falsa evidência n.º 8: 
A UNIÃO EUROPEIA DEFENDE O MODELO SOCIAL EUROPEU
Falsa evidência n.º 9: 
O EURO É UM ESCUDO DE PROTECÇÃO CONTRA A CRISE
Falsa evidência n.º 10: 
A CRISE GREGA PERIMITIU FINALMENTE AVANÇAR PARA UM GOVERNO ECONÓMICO E UMA VERDADEIRA SOLIDARIEDADE EUROPEIA
Conclusão 
DEBATER A POLÍTICA ECONÓMICA, TRAÇAR CAMINHOS PARA REFUNDAR A UNIÃO EUROPEIA
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