segunda-feira, 30 de maio de 2016

Olavismo Cultural e o discurso raivoso de direita na classe média

Ensaio sobre a Pós-Modernidade de Direita nº 6

Por Almir Cezar Filho

Um dos aspectos mais curiosos da ascensão, ou melhor dizendo, da consolidação da Pós-Modernidade na Direita sob a forma radical de Olavismo Cultural é a manifestação crescente de um discurso raivoso [de direita], muito popular na classe média tradicional, a velha classe "A" e parcelas da classe "B". Nem todos à Direita são adeptos do Olavismo Cultural, mas é um sinal comum dessa vertente a pouca diplomacia e gentileza nos debates da parte deles - embora tenham uma hipersensibilidade a críticas a suas próprias opiniões.

Outro traço contraditório é o álibi recorrentemente empregado por eles do direito à liberdade de expressão e opinião para garantir, mesmo que forçosamente, o espaço à sua fala em ambiente e temas que não lhe atém. Porém, sem primeiramente a mesma garantia da parte deles de reconhecer o direito do outrem à crítica à sua opinião ou ao conteúdo da sua expressão. Em suma, querem direito à opinião, mas não estão abertos a opinião dos outros, muito menos que esse outro alvo de crítica possa criticar essa crítica. 

Ainda também há a antiliberal imposição que sua opinião seja tolerada mesmo que excite ao ódio ao outro ou à opinião desse outro. Isto é, exigem tolerância ao discurso seu intolerante sob o subterfúgio da tolerância. E acusam de intolerantes todos aqueles que lhe são contrários ao seu discurso.


Por fim, outro absurdo, e ainda maior, desse verdadeiro ardil do Olavismo Cultural do discurso de "expressão", é acusar de "ideológico" todo discurso e opinião contrária à deles, quando todo e qualquer discurso é em si ideológico ou não isento de valores, diretrizes, concepções, mesmo em muitos casos o científico, ainda mais o deles próprio, que não tem obrigação de ter base material no mundo, a não ser partir do senso comum mais rudimentar.

Uma coisa cômica das pessoas adeptas do Olavismo Cultural é o quanto odeiam ser acusados de sê-lo ou às categorias radicais e extremistas de direita similar. Porém, quando são acusados, mais repetem discursos e palavreados abertamente até mesmo ao ponto de ser classificados de no mínimo protofascistas. 

Outra coisa interessante é a frequente produção da inversão retórica de sua psicopatia e ódio à diversidade, como se fosse ou partisse justamente do oponente. Palavras como "esquerdopata" nunca tinham me suado curiosas - agora entendo e rio. Comumente pronunciadas por eles como meio de desqualificar o oponente. "Você não concorda comigo porque você é feio, bobo e mal".

As jornadas de Junho de 2013 e o colapso do Lulopetismo trouxeram às amplas massas da sociedade brasileira o desejo de opinião e expressão. Algo por si só muito progressivo. Contudo, a ignorância e a despolitização seculares não as prepararam à adesão imediata às posições ideológicas identificadas social e historicamente como socialmente "progressistas". As tradicionais classes médias brasileira, a velha classe "A" e parcelas da classe "B", apesar de representarem um grupo social de elevada escolaridade, se tornaram presas fáceis à armadilha do Olavismo Cultural. 

Não por menos, são um setor social constituído originalmente ainda no tempo do escravismo, e mesmo hoje cheio de pequenos privilégios. E principalmente, reprodutor das ideologias das classes dominantes, especialmente ao fato que é a classe responsável "terceirizada" pela gestão do processo de produção à frente dos postos das burocracias estatal e/ou empresarial. 

Por sua vez, o senso comum dessa classe média se encaixou facilmente aos valores e métodos do Olavismo Cultural. Um discurso que excita os recalques e frustrações dessa classe diante de um Brasil que se moderniza e retira privilégios, sem dar-lhes nada em troca, nem mesmo os direitos universais similares das sociedades avançadas.

Apesar disso não há o que se afirmar que exista uma onda conservadora. Há sim uma situação de nova polarização na sociedade brasileira. Se, por um lado, brotam ações da classe trabalhadora e dos setores oprimidos à situação histórica do país, por outro lado, é natural que se levantem também reações dos contrários à perda do status quo. E com estes, são arrastados os ignorantes e desavisados, ou aqueles que se confundem com estas perdas.

Atualizado em 02/06/2016

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